quinta-feira, 16 de abril de 2009

Insetos interiores - O Teatro Mágico

Notas de um observador:

Existem milhões de insetos

Alguns rastejam, outros poucos correm

A maioria prefere não se mexer

Grandes e pequenos, redondos e triangulares

De qualquer forma são todos quadrados

Ovários oriundos de variadas raízes

Radicais, ramificações da célula rainha

Desprovidos de asas, não voam nem nadam

Possuem vida, mas não sabem

Duvidam do corpo

Queimam os seus filmes e suas floras

Para eles, tudo é capaz de ser impossível

Alimentam-se de nós

Nossa paz e ciência

Regurgitam assuntos e sintomas

Avoam e bebericam sobre as fezes

Descansam sobre a carniça

Repousam-se no lodo,

Lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são

Assim são os insetos interiores:

A futilidade se encarrega de maestrá-los

São inóspitos, nocivos, poluentes

Abusam da própria miséria intelectual

Das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia

O veneno se refugia no espelho do armário

Antes do sono, o beijo de boa noite

Antes da insônia, a bênção

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa...

... a família

São soníferos, chagas sem curas

Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados

Arrancam as cabeças de suas fêmeas, cortam os troncos,urinam nos rios

E na soma dos desagravos, greves e desaterros esquecem-se de si

Pontuam-se

A cria que se crie, a dona que se dane

Os insetos interiores proliferam-se assim

Na morte e na merda

Seus sintomas?

Um calor gélido e ansiado na boca do estômago

Uma sensação de...

... o quê mesmo que se passa?

Um certo estado de conformação conformado

Parece bem-vindo e quisto

É mais fácil aturar a tristeza generalizada

Que romper com as correntes de preguiça e mal-dizer

Silenciam-se no holocausto da subserviência

O organismo não se anima mais

E assim, animais ou menos assim

Descompromissados com o próprio rumo

Desprovidos de caráter e coragem

Desatentos ao próprio tesouro

Caem

Desacordam todos os dias

Não mensuram suas perdas e imposturas

Não almejam, não há alma

Já não mais amor

Assim são os insetos interiores

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